Pai de prematuro internado no Dubai promete "fazer tudo pela filha"
"Parabéns Gui três dias de vida. Já demonstras que tens personalidade pelo que me dizem as enfermeiras. A nossa guerreira sempre que está acordada é muito ativa". A mensagem foi colocada às 18.30 no Facebook de Eugénia Queiroz, mãe da pequena Margarida. Nasceu na terça-feira com 25 semanas e 410 gramas. Está a despertar uma onda de solidariedade.
Os pais, Eugénia, 33 anos, e Gonçalo Queiroz, 29 anos e chef de cozinha do único restaurante português no Dubai, enfrentam o maior desafio das suas vidas. A filha prematura e enormes dificuldades económicas para pagar as contas do hospital privado onde ambas estão internadas.O Governo português está a acompanhar a situação e procura soluções que ajudem a família.
O estado de saúde de Gui é grave. Está nos cuidados intensivos neonatais, tem ajuda para respirar e os médicos estão preocupados com os órgãos mais importantes. Gonçalo, que fez parte da equipa do chef Miguel Laffan e que recentemente recebeu uma estrela Michelin, tem passado as noites num sofá do hospital. O coração está dividido entre o medo e preocupação que sente pela mulher e pela bebé e as saudades do filho mais velho do casal, com apenas dois anos.
"Não o vemos desde que a Margarida nasceu. Tenho de gerir o dia a dia. Temos recebido muitos telefonemas, uns com informação útil, outros de apoio", diz Gonçalo ao DN. A voz embarga cada vez que fala da bebé e relembra os dias mais difíceis da sua vida. "O estado de saúde da minha filha é muito reservado. O embaixador tem-me colocado a par das notícias que vêm de Portugal e das soluções que poderão existir. Disse-me que há hospitais e médicos em Portugal interessados em receber a Margarida. Estão a tentar contactar o médico cá e nós estamos a fazer o mesmo para saber a opinião dele. Vou fazer tudo para que a minha filha tenha sempre a melhor opção que lhe dê mais tempo de vida", conta.
Despesa já ultrapassa os 14 mil euros
Eugénia já não está nos cuidados intensivos, mas hoje teve uma subida de tensão que deixou os médicos preocupados. "Está muito emocionada e ansiosa. Também choro todos os dias. Agora estou um pouco mais calmo, mas é uma situação desesperante. Ainda não arranjámos uma alternativa", desabafa Gonçalo. A família está internada num hospital privado e as despesas são grandes. Em dívida têm já 14 mil euros, entre as diárias dos quartos, medicamentos e restantes cuidados que não conseguem pagar. Tiveram uma ajuda inicial do hotel onde Gonçalo trabalha, mas precisam uma solução rápida.
Apesar de terem seguro, este não cobria a gravidez. Gui foi uma surpresa e quando perceberam que vinha um filho a caminho procuraram uma solução. Mas os preços eram demasiado altos e por isso juntaram dinheiro para um parto que deveria ser normal e sem percalços pelo caminho. "Temos um seguro da empresa que é básico e não cobria a gravidez. Como os seguros eram muito caros, os hospitais têm pacotes de serviços e compramos um. Já temos um filho, foi uma gravidez muito simples e as análises estavam todas normais. Nada fazia adivinhar esta situação."
No domingo, os dois foram a uma consulta de rotina, mas a tensão alta obrigou ao internamento de Eugénia. Na terça-feira seguinte, de manhã, tudo parecia estar bem, mas ao início da tarde tudo mudou: "Começou com dores de cabeça muito fortes que apanhava a nuca, a tensão subiu e a minha mulher começou a ter espasmos. Os médicos tiveram de fazer a cesariana."
A muitos quilómetros de distância, a família de Eugénia e Gonçalo, os amigos vivem a angustia do casal e criaram já uma página no Facebook para angariar fundos e com dois NIB para onde podem ser feitos donativos.
Odília Sousa, mãe de Eugénia, apela ao apoio das entidades nacionais, sobretudo ao governo e à Embaixada Portuguesa no Dubai. "Eles precisam de ajuda; sentem-se desprotegidos". O casal chegou ao Dubai em 2013, "procurando um nível de vida que lhes proporcionasse viver melhor, uma vez que já tinham o Gabriel", acrescenta Odília. A mãe de Eugénia referiu que a filha e o genro não planeavam um segundo filho no momento, mas dada a situação "tomaram as providencias necessárias - comprar um seguro de saúde".
A melhor opção parece ser para já a mudança para um hospital público, que mesmo assim tem de ser pago. "No Dubai têm um sistema de saúde gratuito mas apenas para os locais. Os estrangeiros têm sempre de pagar", explica Gonçalo. Mesmo sendo a pagar, a expectativa é que os valores sejam um pouco mais baixos e alivie de alguma forma a pressão sobre a família.
Secretário de Estado atento
José Cesário, secretário de Estado das Comunidades, está a acompanhar a situação da família. Falou com o pai e tem estado igualmente em contacto com o embaixador português no Dubai. "Estamos à procura de solução. O embaixador vai ter uma reunião com o secretário de Estado da Saúde do Dubai para ver que alternativas existem. Temos um programa social de apoio a emigrantes carenciados mas temos de avaliar se esta família se enquadra. Penso que a melhor opção será a transferência para um hospital público", adianta ao DN.
As outras opções passariam por uma viagem para Portugal, mas a situação clínica delicada de Margarida parece afastar por completo esta opção. E mesmo que assim não fosse, a deslocação seria complicada. "Seria preciso um avião hospital e custa 130 mil euros. Em casos excecionais seria possível recorrer a uma avião da Força Aérea ou comercial, mas não têm condições para transportar uma incubadora", acrescenta o responsável.